Eu amo-Vos Jesus pela multidão que se abriga dentro de vós, que ouço, com todos os outros seres, falar, rezar, chorar, quando me junto a Vós.
TEILHARD DE CHARDIN

domingo, 18 de março de 2012

Retiro na cidade - Levanta os olhos,fixa o objectivo

A palavra de Deus

“Da mesma forma que a serpente de bronze foi elevada por Moisés no deserto, assim é preciso que o Filho do homem também o seja”
Evangelho de Jesus Cristo segundo São João, capitulo 3, versículo 14
A meditação


Sou fascinado há muito tempo pelos verbos no imperativo utilizados por Jesus no Evangelho . As ordens que nos dá . Acredita-se por vezes que o cristianismo não são coisas para fazer. Não estou assim tão certo.


Por exemplo,”fazei isto em memória de mim”. Certamente que entendo que é preciso acreditar no mistério da Eucaristia, que é preciso participar na missa com todo o seu coração. Certamente. Mas entendo também que é preciso ir à missa porque ele disse, porque é preciso irmos lá, simplesmente. Não como o fruto do que sinto. Para mais, é melhor não perguntar o que sinto domingo de manhã no quentinho da minha cama, sobretudo no Inverno.


Não digo que temos que fazer as coisas por pura obrigação, mas por demasiadas vezes deixa-mo-nos levar pelos nossos sentimentos e as coisas que temos que fazer não as fazemos. Sob o pretexto que não se compreende, que não se sente, que não estamos a fundo nelas, deixa-mo-las para trás. Encontram-se justificações. As nossas impressões passageiras dominam-nos e impedem-nos de viver o que queriamos viver. 


Por exemplo a ordem de ir anunciar a palavra de Deus e de baptizar as nações é também bastante clara. Não digo que seja totamente unívoca e que todos devamos fazê-lo da mesma maneira. Cada um deve encontrar a sua própria maneira de o fazer. Mas de qualquer maneira, não para se esquivar, mas para o fazer bem.


Mas o mais fascinante, realmente,  são ordens como:”Amai!” ou ainda “Alegrai-vos! “.De repente, muda-se de dimensão.Tanto me ponho a perguntar como evangelizar na minha vida de todos os dias, tanto me é difícil obedecer à ordem de amar ou de se alegrar. 


Vá lá,ama! Vá lá,alegra-te! E ainda há mais, como por exemplo quando Jesus diz a Tomé : ”Crê”, quando diz ao paralítico ”Cura-te” ou aos discípulos “Não tenham medo”. Aqui está o que é realmente fascinante, porque fica claro que não se trata mais do nosso sentimento , daquilo que se sente de amor ou de ódio, de medo ou de confiança . Podem dizer-me, posso bem forçar-me a parecer que amo e durante um tempo posso convencer-me que amo, mas esse amor, é bem medíocre, se isso ainda se pode chamar de amor. Para alguém que tenha medo, não chega dizer-lhe “não tenhas medo”, e ainda mais a alguém triste “alegra-te!”. A comédia arrisca-se a não durar muito tempo.


Então qual é este amor que nos é mandado por Jesus, de que alegria, se trata, se não de uma alegria e de um amor objectivos, que podem escolher?.  Manda-nos amar, ser felizes, curar e não ter mais medo. Que faremos?  O que respondemos? ”Senhor, Senhor”, tentando convecer-mo-nos que amamos, que somos curados e felizes?


Com efeito, tenho a impressão que a maior parte das vezes ignoramos estes mandamentos, não os tomamos muito a sério, ou esperamos que se realizem sem  que mexamos uma palha.Ou ainda mais , choramingando que somos infelizes, sós, feridos e sem amor.
Pelo contrário, penso que temos que levar estas ordens muito a sério e escolher sempre amar, ter fé, curar e não ter medo. Escolher ser feliz. Fixar o objectivo, apesar das tempestades, dos sentimentos interiores tantas vezes contraditórios, as crises dos nossos bons velhos demónios tão nossos conhecidos.


Tempestades e acidentes sempre houve e haverá. Não importa quem o sabe. Mas sei também que nunca encontrarei a felicidade, a cura, o perdão,  se deixar a minha barca à deriva na corrente. E sei mesmo muito bem o que encontrarei se me deixar ir à deriva. Não encontrarei senão o que levo comigo na minha barca : eu, eu-eu-eu . E nada de muito válido para aguentar uma tempestade. Conhecem pessoas que nunca cruzaram uma tempestade ? O que espera que as condições metereológicas sejam favoráveis arrisca-se a esperar tempo de mais para se fazer ao mar.


Aqui está o que é para mim essa misteriosa serpente de bronze levantada no deserto e que curava os que a olhavam. Aqui está o que é a ressurreição de Cristo. Um objectivo a fixar,a manter. Afasta-mo-nos por vezes, perde-mo-nos também, mas voltamos a nos encontrar. Aprende-se com os erros. E reerguemo-nos com os olhos presos ao objectivo.
  
Como meteste a alegria na tua vida? Escolheste fixar como objectivo o amor? Um amor objectivo, verdadeiro, luminoso, que está pronto para morrer para não renunciar a si mesmo. 
“ Como eu vos amei. ”



Traduzido de

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