Os
três anjos à porta de Jerusalém
Era
quente aquela tarde de Setembro quando celebrámos a Eucaristia no Monte das
Bemaventuranças.
Pelas
doces colinas até ao mar da Galileia,vazio de barcas e de redes ,ecoavam ainda
as palavras de Jesus ,com o seu programa de vida "em abundância",sentindo-se
o sussurrar da multidão ao tentar aproximar-se,porque dele emanava "um
poder" e "poder que curava todos".
E ao
outro dia,pelo deserto da Judeia,subiamos a Jerusalém.O calor aumenta.Os sinais
de vida humana desaparecem.O despojamento da paisagem com a sua austera
rudeza,comove.Livre de construções,muitas e muitas vezes derrubadas e
reconstruídas,mantém a autenticidade dos primeiros tempos.
Ali
foi Jesus tentado,ajudando os homens a fugir de uma das mais aliciantes e
subtis tentações de todas as idades e estados:a tentação do poder pelo poder.
Ali,no
deserto,o homem assaltado pelos ladrões e tão despido de toda a segurança,foi
ajudado pelo inimigo oficial,depois de desprezado pelos naturalmente
vocacionados para o socorrerem,ficando então ,para sempre, alterado pelas
palavras de Jesus o conceito milenar de próximo.
E no
sopé dos montes escalvados de um amarelo indeciso,onde rareavam uns arbustos
verdes cobertos da poeira,perto de um conjunto de pequenas casas abandonadas
apareceram súbitamente três meninos escuros,talvez etíopes.Os três meninos
tinham uma cabrinha e não pareciam pertencer a nada nem a ninguém.A aldeia
abandonada,a fina poeira,o calor terrível e os três meninos.
Se os Anjos costumam tradicionalmente
ser brancos e louros,o modo como aqueles três meninos apareciam naquele lugar
tão desolado,não lhes tirava a possibilidade de o serem,alterando os conceitos
clássicos ,sobre o aspecto dos anjos.
Podiam ser mensageiros de Deus-missão
especial para os Anjos quando partilham,temporáriamente visíveis,o espaço dos
homens-e mensageiros bem fortes e de uma impressionante clareza,que Deus
responsabiliza a humanidade esquecida do mandamento do Amor,pelos milhões
de meninos,que chegam a nascer,mas para brevemente serem mortos ou para não
terem uma vida digna de seus filhos.
E às portas de Jerusalém,num dia tórrido de
Setembro o apelo dos três meninos,que era bem do tamanho do mundo,ficou
assente,magoadamente,no coração dos peregrinos.
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