Eu amo-Vos Jesus pela multidão que se abriga dentro de vós, que ouço, com todos os outros seres, falar, rezar, chorar, quando me junto a Vós.
TEILHARD DE CHARDIN

quinta-feira, 28 de abril de 2016

AMAR A FUNDO PERDIDO...

Meditação sobre o Evangelho do V Domingo da Páscoa pelo Pe Ronchi, que pregou o retiro quaresmal do Papa Francisco e que tentei traduzir, (MJB) para partilhar o que ele nos faz ver,na Palavra, de modo tão expressivo e autêntico:
Dou-vos um mandamento novo:que vos ameis uns aos outros. Mas pode-se mandar amar ? Um amor imposto é uma caricatura, frustante para quem ama, enganador para quem é amado.
Amar na lógica do Evangelho, não é uma obrigação, mas uma necessidade para se viver, como respirar. “ Precisamos todos de muito amor para viver bem (J.Maritain). É mandamento no sentido do fundamento do destino do mundo e da sorte de cada um: Amai-vos uns aos outros , isto é a todos, senão a razão será sempre do mais forte, do mais violento ou do mais astuto.
“ Novo” diz Jesus.Em que coisa constará a novidade desta palavra se também na lei de Moisés era já dito: ama o próximo como a ti mesmo ?
A novidade emerge das palavras seguintes. Jesus não diz simplesmente “amai”. Não basta amar, porque poderia ser só uma forma de possessão e de poder sobre o outro, uma espécie de amor que toma tudo e não dá nada.
São assim também os amores violentos e desesperados. Amores muito tristes e mesmo destrutivos.
O Evangelho adiciona uma palavra particular: amai-vos uns aos outros . Numa relação de comunhão, num face a face, num tu a tu. Na reciprocidade: amor dado e recebido; dar e receber amor é aquilo em que se mede a felicidade desta vida. 
Não se ama a humanidade em geral; ama-se este homem, esta criança este estrangeiro, aquele rosto. Ou pessoa a pessoa, como o fez Francisco com as pessoas refugiadas sírias de Lesbo.
Mas a novidade evangélica não se reduz apenas a isto. Jesus acrescenta o segredo da diferença cristã: como eu vos amei, assim amai-vos uns aos outros.
O específico do cristão não é amar , isso fá-lo muita gente, de muitas maneiras, debaixo de todos os céus. Mas amar como Jesus. Não tanto quanto Ele, porque é impossível para nós viver à sua medida, mas como ele, com o estilo único de Jesus, com a revolução da ternura combativa, da maneira como o viveu. Livre e criativo, fez as coisas que ainda nenhum tinha feito: se eu vos lavei os pés, fazei-o também vós, fazei-o a partir dos mais cansados, dos mais pequenos, dos últimos. Jesus ama primeiro, ama a fundo perdido, ama sem calcular. Veio como comunicação inédita da ternura do Pai.

Por isso todos saberão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros. “ Não basta sermos crentes, devemos ser também credíveis” (Rosario Livatino). Deus não se demonstra, mostra-se.
Como Ele,cada um deve fazer de si próprio uma apresentação inédita do rosto de amor do Pai, um canal não entupido, uma veia não obstruída, através da qual o amor, como água que fecunda, circula no corpo do mundo.

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